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sábado, 27 de novembro de 2021

Palmeiras x Flamengo: a esperada final que simboliza um novo tempo

 


Preços de ingressos, hotéis e passagens nas alturas e, ainda assim, a sensação é de que todos os caminhos conduzem a Montevidéu neste sábado. Há rubro-negros e palmeirenses fazendo sacrifícios de toda ordem. Uma final de Libertadores tem, para o bem e para o mal, a simbologia de um evento único, uma experiência para toda a vida. Desperta as mais genuínas manifestações de paixão e de ganância.

Mas é impossível olhar para este Flamengo e Palmeiras, o encontro do campeão de 2019 com o de 2020, valendo o título de 2021, e não pensar se estamos diante da mais concreta demonstração de um novo tempo. É como se esta final nos despertasse para o fato de que vamos mergulhando numa era que redefinirá a percepção sobre o mais importante torneio de clubes do continente. Antes uma oportunidade que atravessava uma vez a vida de gerações de torcedores, a Libertadores tem o potencial de se transformar, na conjuntura econômica atual do futebol, numa espécie de rotina para a nova, rica e cada vez mais exclusiva elite de clubes brasileiros.


Há uma combinação importante de fatores neste novo cenário. Mercado econômico e futebolístico mais importante do continente, o Brasil tem ao mesmo tempo imposição técnica e uma generosa fatia das vagas na competição. Se nos anos 80 dois clubes por país jogavam o torneio, numa representatividade igualitária, em 2022 serão nove brasileiros na corrida pela taça. Há quase uma certeza de que clubes como Palmeiras e Flamengo, e agora mais notadamente o Atlético-MG, estarão sempre presentes - e há espaço para outros neste grupo, do Brasil ou da Argentina, por exemplo. E mais: só um desastre cada vez mais impensável tira estes times dos mata-matas. Desde o início, rubro-negros e alviverdes eram dois integrantes de um pequeno grupo de destacados favoritos. Ressalvadas as distâncias econômicas que separam Brasil e Europa, cria-se aqui um ponto que nos aproxima da Liga dos Campeões: os gigantes brasileiros podem planejar, sem muito risco de errar, que seus calendários incluirão, no segundo semestre, as fases decisivas da Libertadores.


O Palmeiras que entra em campo neste sábado estará completando a sua participação na sexta edição seguida do torneio. No ano que vem, jogará a sétima, 51 anos após sua primeira aparição na competição. Mas quase um terço de suas 22 campanhas na Libertadores terão ocorrido de 2016 para cá.

O Flamengo, finalista pela segunda vez em três anos, jogou em 2021 a sua quinta Libertadores seguida e fará a sexta em 2022, com pouquíssimos motivos para imaginar uma ausência num futuro próximo. Oito de suas 18 presenças no torneio terão ocorrido entre 2012 e 2022. Os dois não farão todas as finais, é óbvio. Mas, na conjuntura atual, será difícil não vê-los todo ano na disputa.

O próprio Atlético-MG, turbinado pelo dinheiro de seus mecenas e com um novo estádio a caminho, candidato a nova potência brasileira e continental, jogará em 2022 a sua oitava edição de Libertadores desde 2013.

Não se trata de prever que uma decisão de Libertadores perderá, em algum momento da história, o seu caráter solene, a expectativa do que se convencionou chamar de “Glória Eterna”. O que muda é a percepção em torno do campeonato. Houve tempos em que, após longos hiatos, a simples estreia no torneio sul-americano era antecipada por meses. Clubes reviam investimentos, anunciavam o interesse em astros só acessíveis graças ao dinheiro que se imaginava receber da TV e da bilheteria. Hoje, o mínimo que as principais forças do Brasil esperam é jogar o mata-mata, ou mesmo as quartas de final. O risco é que, um dia, a Libertadores vire um cruel parâmetro de sucesso, um ideal de felicidade que só será alcançável para um.

Por muito tempo, expressões como o “Jamais vi meu time numa final de Libertadores” foram usadas para justificar a ansiedade por uma decisão. Talvez um dia criemos uma geração que jamais viu seu time não jogar uma Libertadores. Sintomas de um futebol que, no mundo todo, segue o perigoso caminho da concentração de riquezas e de uma América do Sul que, dentro de sua realidade, segue o mesmo caminho. A indústria do futebol vive um processo de elitização, de nova estratificação de forças, e a imposição técnica e econômica faz o Brasil ser brindado com muitas vagas na Libertadores. Se olharmos para o desempenho no Campeonato Brasileiro, veremos que são contemplados com um lugar na Libertadores times que fizeram pouco para chegar a ela. É muito prêmio por muito pouco. Ainda assim, é possível enxergar um lado menos cruel nisso: dada a vantagem financeira do Brasil, até a classe média do país pode sonhar com eventuais voos altos.

O que não se nega é que um campeonato que chegou a ser conhecido por seu caráter indomável, hoje se alinha aos grandes torneios do mundo justamente no que eles têm de menos admirável: a crescente previsibilidade. E um dos marcos é a transformação do calendário da Libertadores, que em 2017 passa a percorrer todo o ano e deixa de ser comprimida num semestre. Ao dar mais tempo para os times se formarem, inclusive repondo perdas nos vizinhos sul-americanos menos ricos, criou-se nova vantagem para os mais abastados. Os números provam. Entre 2012 e 2016, as 20 vagas disponíveis nas semifinais foram ocupadas por 19 times diferentes. Apenas o Boca Juniors chegou duas vezes a esta fase. Entre 2017 e 2021, foram apenas nove os clubes semifinalistas, oito deles brasileiros ou argentinos.

Montevidéu receberá um destes jogos para a história. A dúvida é se os próximos capítulos terão enredos muito parecidos com o que vivemos neste 2021. A sensação é de que a Libertadores ainda é mágica, mas talvez não seja mais a ocasião única de uma vida. Um novo tempo.


Fonte: Blog do Mansur - G1.

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